Na fase conhecida como “mal do século”, entre 1850 e 1860, surge um dos maiores
representantes da literatura Brasileira: Manuel Antônio Álvares de Azevedo,
nascido na cidade de São Paulo em 12 de setembro de 1831. Morreu com apenas 20
anos em 25 de abril de 1852 deixando para trás obras feitas de pesadelos de
ópio, repletas de um amor platônico que por vezes nos carrega até os absurdos
da necrofilia. Suas poesias ambientadas em descrições tão soturnas quanto as de
Edgard Allan Poe, traz-nos uma arte e uma forma única.
Sonhando
Na praia deserta
que a lua branqueia,
Que mimo! Que rosa,
que filha de deus!
Tão pálida – ao vê-la
meu ser devaneia,
Sufoco nos lábios
os hálitos meus!
Não corras na
areia,
Não corras assim!
Donzela, onde vais?
Tem pena de mim!
A praia é tão
longa! E a onda bravia
As roupas de gaza
te molha de escuma;
De noite – aos serenos
– a areia é tão fria,
Tão úmido o vento
que os ares perfuma!
És tão doentia
Não corras assim!
Donzela, onde vais?
Tem pena de mim!
A brisa teus negros
cabelo soltou,
O orvalho da face
te esfria o suor,
Teus seios
palpitam – a brisa os roçou,
Beijo-os, suspira,
desmaia de amor!
Teu pé tropeçou...
Não corras assim!
Donzela, onde vais?
Tem pena de mim!
E o pálido mimo da
minha paixão
Num longo soluço
tremeu e parou;
Sentou-se na praia;
sozinha no chão
A mão regelada no
colo pousou!
Que tens, coração,
Que tremes assim?
Cansaste, donzela?
Tem pena de mim!
Deitou-se na areia
que a vaga molhou.
Imóvel e branca na
praia dormia;
Mas nem os seus
olhos o sono fechou
E nem o seu colo
de neve tremia.
O seio gelou?...
Não durmas assim!
Ó pálida fria,
Tem pena de mim!
Dormia – na fronte
que níveo suar!
Que mão regelada
no languido peito...
Não era mais alvo
seu leito do mar,
Não era mais frio
seu gélido leito!
Nem um ressonar!
Não durmas assim...
Ó pálida fria,
Tem pena de mim!
Aqui no meu peito
vem antes sonhar
Nos longos
suspiros do meu coração:
Eu quero em meus
lábios teu seio aquentar,
Teu colo, essas faces,
e a gélida mão!
Não durmas no mar!
Não durmas assim.
Estatua sem vida,
Tem pena de mim!
E a vaga crescia
seu corpo banhado,
As cândidas formas
movendo de leve!
E eu vi-a suave
nas águas boiando
Com soltos cabelos
nas roupas de neve!
Nas vagas sonhando
Não durmas
assim...
Donzela, onde vais?
Tem pena de mim!
E a imagem da
virgem nas águas do mar
Brilhava tão
branca no límpido véu!
Nem mais transparente
luzia o luar
Nem ambiente sem
nuvens da noite do céu!
Nas aguas do mar
Não durmas
assim...
Não morras,
donzela,
Espera por mim!
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